O
espetáculo é cheio de méritos a começar pela direção presente e eficiente de
Marcos Cardoso, que consegue articular muito bem todos os elementos da
encenação, assim como o elenco numeroso (14
jovens atores).
Quando
o espetáculo começa salta aos nossos olhos o imenso cenário, que além de
ambientar a peça tem um papel fundamental no andamento da história. Ele auxilia
nas trocas de ambientes e climas e tem um serviço de contra-regragem bastante
eficiente e preciso, realizado pelos próprios atores. Esta contra-regragem é o
momento onde a teatralidade aflora na cena, é o momento em que os atores
despojam-se de suas figuras para brincarem de fazer teatro, é o momento da
quebra da ilusão, e isso é bastante positivo. O cenário móvel valoriza as cenas
de ação e joga com o poder da imaginação do espectador, pois sugere a presença
de um trem, provocado apenas pelo movimento de vagões e lanternas, assim como
as galinhas dentro da gaiola, ou seja, elementos que estão presentes, mas
provocados pelo imaginário criado pelo espetáculo.
Outro
destaque é a dramaturgia que consegue criar uma narrativa que contemple tanto
os elementos regionais que é um dos motes de pesquisa do grupo dentro de uma
chamada Trilogia Campestre (esta é a segunda parte da trilogia), e consegue
contemplar o elenco, distribuindo as figuras criadas, onde cada um tem um papel
fundamental dentro da peça.
Como
é bom ver um trabalho continuado com atores na faixa de 10 a 17 anos... É
engraçado falar isso, trabalhado continuado com pequenos, mas neste trabalho
percebemos no palco, as peculiaridades que são advindas desta prática.
A
encenação é de uma limpeza na sua concretização, tudo está a serviço da cena
conduzidos por um tempo-ritmo ideal para se contar a história. A iluminação é
pontual sem grandes movimentações e trocas, assim como a trilha que tem o papel
de pontuar as ações e trocas de cenas, as vezes utilizada de forma demasiada, as
vezes para tentar provocar através da inserção sonora a emoção do público, fato
que é desnecessário, senão vira melodrama, fica over, fato que não chega a
comprometer, pois a ação já está me dando estes elementos direto na cena que
não seria preciso de interferência sonora.
Os
figurinos estão totalmente dentro da proposta da encenação, sem exageros,
simples, porém conseguem dizer muito a respeito de cada figura representada.
As
passagens de tempo são de uma sutileza poética que pela forma como são executadas
cativam o espectador e voltar com o casal de enamorados ao final do espetáculo
dá uma sensação de circularidade, pois aquele casal do final pode ser o mesmo
lá do inicio, ou até mesmo pode ser um novo casal, até mesmo seus filhos, pois
histórias assim sempre costumam acontecer.
E
quanto ao elenco, posso dizer que seguramente é coeso na sua totalidade, todos
estão entregues, não há como dizer que ator A é o principal e o B é
coadjuvante, pelo fato que a direção consegue equalizar muito bem o jogo e a construção
destas figuras, evidenciando o que cada um tem de melhor, e isso é tão bom de
se ver em cena, quando todos conseguem brilhar a serviço da encenação.
O
espetáculo está de parabéns, pela proposta de colocar no palco as suas
histórias, seus dilemas, suas memórias construindo uma dramaturgia que se
alimenta do seu chão, sua terra. O texto tem inspiração em "A megera
domada" de Shakespeare, mas apenas parte de inspiração e motes, criando
uma história totalmente original e bem diferente da do Bardo, conseguindo um
resultado totalmente positivo. Está de parabéns por colocar em cena atores tão
jovens (o mais novo tem 10 anos), e tão íntegros e entregues no seu ofício.
Vida
longa ao Deixa Quieto e viva a diversidade cultural e regional!!!
Comentário
Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça A moça bonita da linha do trem,
do grupo Deixa Quieto de Salvador do Sul.
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