O espetáculo “O médico que receitava livros” é uma
deliciosa comédia dirigida a todas as idades. Uma proposta que é didática, sem
ser panfletária, traz em sua essência uma pedagogia sem cair na pieguice de ter
um professor em cena ao invés de atores.
O espetáculo é centrado na força poética do texto de
Totonho Lisboa, que é uma revelação enquanto dramaturgia e letrista da bela
canção do inicio do espetáculo, pois consegue articular muito bem as
referencias literárias dentro da narrativa, apostando num texto que provoque
muito mais pelas situações e personagens bem delineados do que pelo riso ou
propostas rasas. O riso acontece, mas de acordo com as situações propostas pela
cena.
A encenação inicia com a entrada do médico Millor e sua
movimentação inicial é suja, sem motivação, apenas para montar a cena, o que
leva a crer que o entra e sai dos livros não passa de uma ação que serve para
preencher a duração da canção inicial. Passado este primeiro momento, que
poderia ser melhor decupado, o espetáculo vai ganhando força e ganhando a
platéia através de sua poesia literária e cênica. O elenco é coeso e consegue
equalizar muito nas interpretações, e o grande destaque da peça é a presença de
Caroline Oliveira, que consegue criar uma personagem que tem uma empatia muito
grande com o espectador, pois recheia suas ações de sutilezas numa
interpretação arrebatadora. Carolina através de sua presença constrói ainda um
novo personagem que não está em cena, porém a presença é forte, que é o
porteiro. A sua relação com esse personagem fictício é de uma veracidade que
acreditamos que este personagem irá adentrar na cena a qualquer momento. Samuel
dos Santos consegue sustentar a figura deste Doutor maluco e visionário.
Consigo embarcar na sua criação que pelo fato de ser ao mesmo ator e diretor
poderia ser melhor apurada, mas esse fato não tira o frescor de seu trabalho.
Já Alan Krug que faz três personagens tem a facilidade de construir tipos,
auxiliados por figurinos que ajudam muito na composição, talvez o primeiro personagem
pudesse ser um pouco mais explorado, para não ficar só na caricatura, mas com
as demais participações consegue se mostrar a que veio.
Penso que o grupo poderia investir na criação destes
universos paralelos provocados pela leitura dos autores citados em cena, pois
através disto poderia criar nuances necessária a cena, uma desconstrução da
figura do Doutor investindo mais na criação de outros mundos, auxiliados pela
iluminação que aqui é bastante neutra, mas que não compromete em nada a peça, assim
como a composição dos figurinos.
Outra aposta seria a do grupo investir mais nas
convenções teatrais, como entradas e saídas dos personagens de cena, pois do
modo como se apresentam são previsíveis.
O espetáculo carece de ajustes que de maior coerência ao
que já alcançam e o resultado alcançado é muito bom, através de um trabalho
criativo e limpo. Portanto reitero que "O médico que receitava
livros" é uma pedra preciosa que está em fase final de lapidação, pronta
para brilhar...
Comentário Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça O Médico que Receitava Livros, do grupo Teatral Trupe de São Leopoldo.
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